“Não se trata de uma feira que se estabeleceu numa cidade. Mas uma cidade que se formou em torno de uma feira”. A frase de Hermeto Pascoal cai quase como uma descrição da origem de Arapiraca, que teve como principal impulsionador para o desenvolvimento a sua propensão para o comércio.
Antes mesmo de ser emancipada, lá pelos idos de 1884, a cidade dava início ao que já foi considerada a maior manifestação cultural do Agreste: a feira livre. Arapiraca ainda era povoado, mas já dava indícios de crescimento, principalmente com o advento da Cultura Fumageira. E foi a feira livre de Arapiraca uma das principais influenciadoras do processo de emancipação.
Em 1920, segundo o historiador Zezito Guedes, a feira de Arapiraca já superava, em renda, a feira de Limoeiro de Anadia, cidade a quem pertencia antes de sua emancipação. A partir daí se deu início o movimento pedindo a separação, que só se deu em 1924.
Todas as segundas-feiras, as principais ruas do centro da cidade viravam um caos, numa mistura de comércio, arte e cultura. Eram centenas de bancas vendendo os mais diversos tipos de produtos.
Uma das ruas mais movimentadas era a 15 de Novembro. Milhares de pessoas dos quatro cantos do estado (e as vezes até de fora) passavam pelo local para comprar frutas, verduras, carnes, roupas, utensílios para o lar e até para negociar.
A feira de Arapiraca deu trabalho a muita gente, como foi o caso da dona Maria Fernandes, de 75 anos, que criou 9 filhos com o suor do trabalho na barraquinha de hortifrúti.
“A gente passava a madrugada montando tudo, levando os produtos pra vender. Era muito bom. Eu tinha uma barraquinha de ervas, legumes e frutas que minha família mesmo produzia. Era uma cultura tão boa que a gente nem sentia o tempo passar”, disse a ex-feirante.
O amor pela feira também foi confirmado pela microempresária Donizete Ferreira de Araújo, que junto da mãe, dona Fanda Cândia de Araújo, trabalhava em uma bodega na rua 15 de novembro.
“A gente veio de Limoeiro de Anadia pra trabalhar na feira de Arapiraca. Minha mãe tinha uma bodeguinha que servia como um apoio pros feirantes. Aqui eles tomavam café, comiam e depois voltavam pro trabalho. A mesma coisa acontecia com os visitantes e clientes”, disse Donizete.
“Depois que minha mãe morreu, eu continuei trabalhando por aqui”, disse ela, que mantém o estabelecimento no mesmo local.