Juninas de Arapiraca apostam na confecção de peças exclusivas para contar as histórias do São João
Figurinos começam a ser produzidos meses antes e exigem trabalho árduo em todos os detalhes
No São João, um dos encantos que as quadrilhas juninas levam ao público é a explosão de cores e brilhos nas apresentações. Os figurinos não são apenas um acessório dos grupos, mas protagonistas do espetáculo, planejados e elaboradores muito antes dos dias de show no palhoção. Peça por peça e pedraria por pedraria, os responsáveis pelas roupas e adereços das estilizadas se dedicam durante grande parte do ano à criação que vai encher os olhos de quem os assiste.
Um deles é o Moisés Damasceno, líder da quadrilha Vale do Mandacaru e responsável, ao lado de mais quase 10 pessoas, pelo figurino dos integrantes. Em 2023, o grupo que nasceu no Residencial Brisa do Lago vai levar aos arraiás de Arapiraca o tema “É festa no Vale, é noite de São João, vem viver com a gente essa linda emoção!”, um retrato da fé do povo nordestino e resgatar as tradicionais cantigas das rodas de ciranda do São João e rimas de cordel.
Para isso, as vestimentas foram planejadas desde novembro de 2022, poucos meses depois do término do São João. “O figurino desse ano começa em cores fechadas, como o preto e o branco, representando luto pelo fim da festa de São João na cidade fictícia, mas que logo após alguns acontecidos voltam a tornar a cidade cheia de cor”, revela Damasceno.
Segundo o líder, a expectativa é enorme para mostrar ao público os frutos de um trabalho que é minuciosamente realizado, com todo o cuidado e afeto que só os verdadeiros apaixonados pelas chamas do São João podem entregar. “A expectativa é muito grande e ansiedade toma conta. O meu amor pelo são João e por minha Junina me dá forças pra seguir mantendo a cultura junina viva na cidade e levando o nome de Arapiraca e a nossa dança pra outros estados”, diz ele.
De peça em peça
A Junina Renascer do Sertão, do bairro Manoel Teles, disputa, em 2023, a 1ª divisão da Liga de Quadrilhas de Alagoas, o chamado “Grupo especial”. Além disso, o grupo também vai sair de Arapiraca e se apresentar pela primeira vez no São João de Campina Grande, um dos maiores do Nordeste. Diante de tanta empolgação, o cuidado no preparo dos figurinos dos integrantes é fundamental, e vem desde a escolha dos materiais brutos que se transformam nas vestes de cada um.
“O processo de compras é feito a medida que vamos arrecadando dinheiro para a compra dos materiais necessários. Além de buscarmos as melhores opções de qualidade, também buscamos principalmente a melhores opções de preço, pois tem que ser os mais acessíveis e econômicos, porque o custo dos figurinos é muito alto. Então sempre buscamos economizar o máximo para que possamos realizar o figurinos assim como está no projeto”, diz o presidente da quadrilha, Eduardo Portuga.
Ainda de acordo com ele, uma verdadeira equipe espalhada pelo estado e fora dele trabalha em todos os detalhes.”Nosso tema é o mastruz e nosso figurino traz algo simples e ao mesmo tempo sofisticado, retratando a simplicidade de uma erva e a riqueza da medicina natural, assim também como a simplicidade das religiões e a riqueza da fé, contendo alguns objetos representativos da fé de um povo em suas diferentes crenças, e claro, muito verde representando a erva mastruz e todas as folhas medicinais”, detalha o presidente do grupo.
Uma costureira de Maceió é responsável pela confecção das saias, três de Arapiraca tomam conta das roupas masculinas e corpetes femininos e os como os calçados, arranjos e acessórios ficam a cargo de outros profissionais. As compras dos materiais são feitas em Arapiraca, Maceió, Caruaru, Recife e até São Paulo.
Já Lindoberg Marrony, figurinista da Tradição Junina e da Gibão de couro da cidade de Pilar, começou a projetas as peças dos grupos em dezembro. À frente do ateliê LMarrony, ele diz que o período junino é uma das altas temporadas de suas peças, e por isso é necessário expandir a equipe com mais seis profissionais, divididos entre roupas e bordados. “as peças também são essenciais para retratar a mensagem que o grupo quer passar. O diálogo entre figurino e tema esse ano vem da história do rio que vamos falar. Escolhemos a cor verde para simbolizar a esperança dos povos ribeirinhos e as algas do rio, assim queremos transmitir força, beleza e elegância”, conta.
Autor: Mácio Amaral