6 de fevereiro de 2023

Tradicional terreiro de candomblé de Arapiraca recebe homenagem da Prefeitura

Espaço religioso tem suas raízes em descendentes africanos remanescentes do Século XIX

Cerimônia de entrega do selo “Aqui se faz Cultura” ao terreiro Ilé Axé Obá Xangô Alacê / (Foto: Divulgação)

A religiosidade de matriz africana Nagô, do povo Iorubá, chegou em Arapiraca através da ialorixá Iracema Alves dos Santos, no século XX. A sacerdotisa fazia parte de toda uma geração de descendentes de africanos do séxulo XIX, e deixou um fruto que até hoje continua mantendo a tradição, cultura e crenças: José Ilair Alves dos Santos, o Pai Quinha, seu filho.

Em janeiro, o espaço mantido por ele foi um dos que receberam o selo “Aqui se faz Cultura”, reconhecimento da Prefeitura de Arapiraca, concedido por meio da Secretaria Municipal de Cultura, Lazer e Juventude. “É um privilégio a gente receber esse selo. Agradeço muito a Deus por receber essa homenagem e ao axé da minha mãe. Estou aqui levando esse axé do nagô raízes de Iracema Alves dos Santos, nagô legítimo. O nagô dela está vivo, não está morto”, disse Pai Quinha.

Aos 61 anos, Pai Quinha foi Iniciado para o Orixá Xangô quando tinha 19, e desde então, dedicou sua vida ao aprendizado e guarda de saberes ancestrais milenares oriundos dos Povos Iorubás. O grupo está em presente em cinco países africanos, principalmente na Nigéria, país onde fundaram seu primeiro reino e, daí, conquistaram vastos territórios nos quais estabeleceram impérios poderosos como o de Oió, cuja divindade Xangô teria sido um de seus reis míticos.

Frutos de Balbina e Iracema

Em Arapiraca, ele fundou o terreiro Ilé Axé Obá Xangô Alacê há 17 anos, carregando todas da raízes da mãe e também do pai, Babalorixá Aroldo Manoel Santos. O espaço funcionava inicialmente no bairro Canafístula, mas em 2018 foi levado para o Povoado Furnas, zona rural do Município de Arapiraca. O local é um museu vivo, que simboliza a resistência e manutenção de saberes, práticas sociais e visões de mundo milenares, trazidas para o Brasil no processo de diáspora forçada a que foram submetidos mais de quatro milhões de africanos ao longo de quatro séculos. No terreiro, são mantidas as tradições familiares e de cultura comunitária próprias da cosmovisão africana-nagô, baseada no profundo respeito à ancestralidade, à natureza, e ao ser humano como centro da criação do universo.

Além de Babalorixá, Pai Quinha detém vasto conhecimento em torno da musicalidade afro-nagô. O acervo na memória guarda centenas de cantos sagrados chamados de Zuelas, essenciais para a liturgia afro religiosa, a maior parte já praticamente desaparecidas nas práticas religiosas dos Terreiros Nagô contemporâneos em Alagoas.

Pai Quinha é o patriarca dessa família que, hoje reúne em torno de 60 pessoas, que formam os galhos e ramas de uma grande árvore que tem nas matriarcas Balbina da Costa – símbolo da geração do século XIX -, e Iracema dos Santos suas raízes mais profundas, referências maiores da sabedoria Nagô firmemente plantada no município de Arapiraca há mais de 60 anos.

Autor: Mácio Amaral

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