24 de junho de 2022

Vila Cajarana resgata tradição e casamento matuto no São João

Festa junina é realizada na comunidade há mais de 18 anos e une os moradores da zona rural

Fotos: Fábio Ferreira – Ascom Arapiraca

Percorrer o “Arraiá Aracajana”, construído pela comunidade do Povoado Cajarana, na zona rural de Arapiraca, é vivenciar um espaço onde a tradição se mantém nas mais diversas formas do fazer: agricultura, religiosidade e maneirismos. O guardião na entrada avisa o tema da festa: é São João, envolto em chita.

O arraial da comunidade nasceu de um grupo de senhoras que se juntaram para resgatar e mostrar cultura. O termo “Aracajana” foi criado por das moradoras, que visitava o Cultura na Praça e teve a ideia de nomear o arraial que já existe há mais de 18 anos. A junção entre “Arapiraca” e “Cajarana” pegou.

Cerca de 600 famílias povoam a Vila e grande parte delas vive da agricultura familiar, com o cultivo de fumo e mandioca. Das sementes jogadas no adubo ao pé de fumo já crescido, a comunidade montou uma cidade cenográfica que é um retrato da redondeza. Nesta quinta-feira (23), o Aracajana trouxe a plantação na roça, as casas típicas de farinha e da benzedeira, além do festejante trio pé de serra e das bancas de fogos e comidas típicas.

 

A Dona Benzedeira

Os atores da cidade criada no Arraiá Aracajana desempenham um papel comum a eles. A realidade se mistura à ficção. Esse é o caso da Dona Maria, de 63 anos, cuja fé já vem no nome: é Maria de Jesus. A idosa representa a benzedeira, e o saber medicinal popular ela domina desde os oito anos de idade. “Minha mãe me ensinou tudo”, diz a idosa, ressaltando que para cada necessidade, há uma erva específica.

Sentada na casa de taipa que ajudou a construir para o arraiá, Dona Maria fala sobre o vínculo com a cura pela pelas plantas e ervas medicinais. “Quando o pai dos meus filhos tava em cima de uma cama três dias sem se levantar, eu fazia um chá e ele se levantava. Eu juro por Jesus Cristo. Eu sou uma veinha, mas sou uma veinha honesta, originalizada, não sou paraguaia”, brinca a idosa. As rugas da experiência contornam o sorriso largo da mãe de seis filhos e avó de quatro netos.
O casamento comédia

Mais tarde, Maria de Jesus deixa o papel de benzedeira de lado para assumir um novo: a mãe da noiva no casamento matuto da comunidade. A união matrimonial arrancou gargalhadas do público quando contou com muito bom humor a história do noivo que engravidou a moça, mas não queria casar.

“Ô, mainha, eu tô prenha e ele não quer casar”, lamentou a desafortunada em questão, interpretada pela Estephane Aguiar, de 21 anos, moradora da Cajarana. Ela nunca tinha participado da brincadeira como noiva, a personagem principal, mas o São João já faz parte da vida da jovem e por isso o dia foi tão especial. “Foi maravilhoso estar junto com a galera, ver a sensação de todo mundo junto, todo mundo rindo, todo mundo feliz”, comemora.

O Arraiá Aracajana é moldado na mesma fôrma do Povoado que o constrói, com aconchego, hospitalidade e tradição. A festa que resgatou costumes e espalhou alegria será ainda maior ano que vem, garante a organização. Promessa essa que só pode ser feita por um grupo apaixonado pelo São João.

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