Comunidade se une para construir Arraial no Povoado Itapicuru
Moradores driblaram imprevistos causados pelas chuvas em prol do São João
Pela terceira vez, o Povoado Itapicuru, na Zona Rural de Arapiraca, recebeu uma edição São João Comunitário. O palco vermelho pintado pelo barro da comunidade foi abrilhantado por quadrilhas e grupos de coco de roda e xaxado na noite desta terça-feira (21), mas foi preciso um trabalho conjunto para que a festa acontecesse.
A comunidade de 140 famílias e cerca de 500 habitantes enfrentou um imprevisto antes da festa, quando as fortes chuvas alagaram a frente da Associação de Moradores, onde seria o “Arraiá Itapicuru”. Dali em diante, foi preciso correr contra o tempo para encontrar um novo local e reorganizar todo o espaço.
“Hoje, no meio da chuva, uns quatro ou cinco pais de famílias disseram ‘não, a gente vai pegar as tendas e levar para outro lugar’. Pegamos as tendas e andamos cem metros a pé para trazer pra cá”, conta o presidente da Associação, Valmir José, que é parte do Povoado desde os 10 anos de idade.
Ele define a população da comunidade, onde “90% são agricultores”, como um “pessoal aconchegante e caseiro”. E foi na frente da casa de uma dessas pessoas que o arraial aconteceu. Maria Ediuza mora com a irmã e o tio, e não pensou duas vezes em aceitar que a festa junina fosse no terreno dela. “A gente nunca fez evento nenhum em casa, foi o primeiro ano, então tá muito bacana. Eu gostei. Todo mundo do sítio tá aqui, então também gostaram”, ri.
A casa rosa no meio da terra
Assim como Ediuza, Marinalva dos Santos foi uma das que ajudaram a fazer o São João do Povoado acontecer. Dona Nalva cedeu os apoios de varal que sustentaram as bandeiras coloridas de enfeite por todo o palhoção.
A agricultora de 52 anos planta mandioca, feijão e batata, tanto para comercializar, como também para o próprio consumo. A renda obtida na venda das guloseimas é para complementar o sustento, e foi alta no dia do Arraiá. “Com certeza as minhas vendas aumentaram hoje. Eu vendo menos, e hoje eu vendi muito, graças ao evento. Aqui não tem muita venda, não. Só eu que vendo essas coisinhas assim”, diz.
Dona Nalva coloca as pipocas, bolos de pote, balas e refrigerantes sempre à venda dentro de casa, mas hoje montou a banca na porta para estar mais visível diante da grande clientela. O imóvel rosa com muitas plantas na frente, que é lar e ambiente de trabalho, virou uma espécie de local de aquecimento e descanso dos grupos que se apresentam na noite. Na hora das apresentações, quando nenhum cliente em potencial está por perto, ela observa a festa de longe atrás da mesa: “Só não tô lá, porque tô aqui vendendo”, declara rindo.
Até lá, é comum algum integrante dos grupos se aproximar para pedir um espaço para trocar de roupa ou água para beber. Dona Nalva é atenciosa e não se incomoda em interromper a conversa para servi-los. Nem cobra nada por isso. A generosidade é maior que a vontade de lucrar, visto que a pequena comerciante, como ela mesmo disse, é a única que está vendendo nas redondezas.
Festa que traz alegria
Lidiane Oliveira é moradora do Povoado Itapicuru desde que nasceu. A autônoma de 32 anos apelidada de “Zezé” participou da organização após receber o convite para substituir uma moradora que ficou doente. Para ela, que desempenhou a função pela primeira vez, o evento é uma felicidade para o povo.
“Aqui é um lugar mais pacato, bem afastado. Aí vem uma quadrilha e outra, e a população já fica mais animada. Nos outros bairros já tem mais pessoas e aqui não”, conta.
Segundo Zezé, o arraial é feito pensando no bem-estar dos moradores. “O São João é uma época de se divertir, todo mundo tem que tá feliz e quando isso acontece, é bom pra todo mundo. É uma comunidade carente, mas é um povo unido”, afirma.
A união pela festa foi o símbolo do povo do Itapicuru. Os moradores mostraram que o caminho para chegar ao São João pode ser de dificuldades, assim como as poças e buracos em que se tropeça até o povoado, mas com o trabalho conjunto, a festa é garantida.
Texto: Mácio Amaral.