23 de junho de 2022

Bairro Itapoã tem São João que une arte, tradição e trabalho social

ONG Casa de Caridade promove ações de resgate na comunidade que já foi considerada uma "área vermelha" de Arapiraca

A placa “Bem-vindo a Vila Contente”, colocada depois da entrada da cobertura de palha, dá as boas vindas ao palhoção do Bairro Itapoã. A festa da noite de quarta-feira (22), na Rua Amâncio Matias, foi organizada pela ONG Casa de Caridade, fundada em 1998 por Alex Gomes da Silva, o Pai Alex.

Natural de Igaci, Pai Alex veio para Arapiraca há 38 anos. A situação que encontrou no bairro não era das melhores. O lugar era considerado a “área vermelha” da cidade por conta do alto número de prostíbulos e criminalidade. Para tentar mudar a realidade do local, o homem lutou com as forças que tinha: arte, conhecimento e empatia.

 

Fotos: Fábio Ferreira – Ascom Arapiraca

A ONG criada pelo líder comunitário oferece várias atividades de teor social e cultural, como entrega de doações de roupas, cestas básicas e sopão solidário. “Depois o trabalho foi aumentando e veio essa veia cultural que eu tenho, que aprendi com meus ancestrais, meus tios, meus avós. Fui espalhando cultura aqui”, disse.

O resgate social veio aos poucos e deu resultado. Jovens e crianças em situação de vulnerabilidade passaram a ver o homem simpático como inspiração. Acompanhar o Pai Alex no Afroxé, na banda de pífano ou na banda de coco se tornou uma programação mais enriquecedora e instigante do que as demais oferecidas por ali.

São João de raízes e memórias

O arraial comunitário começou por iniciativa própria. Ao lado do filho, Pai Alex deu início ao que hoje é uma grande festa na comunidade. “Depois de dois anos, conseguimos o incentivo da prefeitura, e agora voltamos de novo com esse mesmo incentivo. Você vê a alegria que tá o povo aí. São catadores de reciclagem, domésticas, pessoas que trabalham no comércio da cidade e que moram aqui. Esse dia de hoje é um dia maravilhoso, é o melhor dia do ano pra eles”, afirma.

Pai Alex é juremeiro e candomblecista. A mesa de relíquias colocada na festa traz um pouco do museu a céu aberto da Fazendinha do Zé da Pinga, o maior núcleo de jurema do Brasil, como bem destaca o líder. A organização não trouxe mais itens por medo das chuvas, mas ainda assim as relíquias trazem lembranças de uns tantos anos atrás.

A “religião mais brasileira de todas” nasce de influências indígenas, cristãs e afro-brasileiras. “Com 8 anos de idade eu entrei na jurema, e aos 10 me iniciei no candomblé. Sou Pai Alex, juremeiro, babalorixá, mestre em cultura. Procuro ir só as lugares onde as pessoas vão me olhar. Essa coisa de tolerância, eu odeio essa palavra, não quero que ninguém me tolere, quero que me respeitem, como eu respeito a todos”, afirma.

A diversidade de comidas típicas foi um dos destaques. As barracas coloridas e quase artesenais exibem o cardápio tão amado pelo nordestino: “canjica”, “munguzá” e “arroz doce”. O cuscuz tamanho família exalava o aroma tão característico ao centro da mesa, e foi acompanhado de outros preparos que alegraram o paladar da comissão julgadora.

Sorteio na Contente

O forró do Trio Pé de Serra chamou os moradores pra dançar. A população esbanjou habilidade e alegria em fazer parte da festa tão esperada.

A servidora pública Dalva Vicente é moradora do Povoado Canaã e foi conferir de perto a festa da Vila. “Vim prestigiar a comunidade Vila Contente, que eu já conheço há um tempo por conta dos trabalhos que fazem. O arraial está muito bem organizado, é uma festa que todo mundo esperava”, diz.

Outra que saiu contente da Vila foi a Selma Barbosa, premiada no sorteio do balaio junino. “Foi a primeira vez que eu veio na casa do Pai Alex e foi muito bom. Estou muito feliz em ter ganho nessa primeira vez que vim”, contou.

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