Orquestra Sanfônica de Arapiraca faz show histórico homenageando João do Pife

Vários mestres sanfoneiros subiram ao palco ao lado de jovens músicos: a sintonia de gerações que marcou este Aravantu 2019 (Foto: Lucas Ferreira)

Se lá fora há a dupla Lennon/McCartney, aqui no Brasil houve a Gonzaga/Teixeira. Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira escreveram juntos boa parte dos “hinos musicais” do Nordeste e do Brasil.

Os dois, juntos, não inventaram o baião, mas mostraram como se dançava. Esse foi o diferencial.

Segundo os jornalistas e escritores Carlos Marcelo e Rosualdo Rodrigues em seu livro “O Fole Roncou – A História do Forró”, eles estavam no lugar certo (Rio de Janeiro) e na hora certa (1940), quando o mercado já estava saturado da música estrangeira, especialmente o bolero, que eclipsava até o samba.

Victor do Acordeon é um destes jovens que veio para somar na Orquestra Sanfônica (Foto: Nasário Silva Jr.)

O Brasil precisava de uma nova identidade, uma nova temática, um novo ritmo, algo autêntico trazido na memória, da infância. Gonzaga para alcançar o futuro, teve que voltar ao passado.

Assim há uma temática recorrente no cancioneiro nordestino: a dor da ausência; lembranças de um tempo difícil; e momentos de pura alegria.

E essa última parte, foi o que se viu no show histórico realizado pela Orquestra Sanfônica de Arapiraca, no Lago da Perucaba, durante o Aravantu – São João de Arapiraca 2019, no dia 28 de junho.

Público vibrou bastante com os clássicos nordestinos tocados e as homenagens a João do Pife (Foto: Nasário Silva Jr.)

“Foi um momento muito especial, onde pudemos inclusive homenagear o mestre João do Pife, arapiraquense de coração. Ele era o suprassumo de nossa música. Trazia a raiz nordestina em seu sopro”, diz Afrísio Acácio do Acordeon.

Ele foi o maestro da Orquestra Sanfônica e agradeceu pelo espaço dos artistas da terra no palco principal do evento junino de Arapiraca.

Estavam com ele, na linha de frente, Bastinho da Sanfona, Victor do Acordeon, Zé Neto do Acordeon, Maxsuel do Acordeon, Juquinha do Acordeon, Miguel Vieira, Souza do Acordeon, Manoel Rosevel da Sanfona e Messias de Juquinha da Sanfona.

O show entrou para a história e ficou guardando na memória de todos (Foto: Lucas Ferreira)

Acompanhando a orquestra e segurando a batida, Pelezinho no triângulo, Bodinho no pandeiro e Zé Pretinho na zabumba.

A Orquestra Sanfônica de Arapiraca tocou dezenas de sucessos do cancioneiro do Nordeste e, sobretudo, músicas do eterno João do Pife, homenageando-o devidamente para milhares de pessoas que o conhecem e o estavam conhecendo naquela sexta-feira chuvosa e abençoada.

O público estava no lugar certo (Arapiraca) e na hora certa (2019). Salve o forró!

JOÃO DO PIFE

Mesmo nascido em 1932 na cidade de Porto Real do Colégio-AL, foi em Arapiraca que João Bibi dos Santos começou a tocar pífano. Autodidata, o pai de Maria Nazaré manuseava o instrumento que depois se integrou a seu nome, justamente quando ajudava seus pais nas lavouras de fumo.

Décadas depois, a cidade viria a ser considerada a “Capital Brasileira do Fumo”, vivendo sua era do “ouro verde” e ascendendo de vez no coração de Alagoas.

Foi nessa época que o então chamado João do Pife também crescia; já estava ganhando o país e levando o nome e a Música do nosso estado para todo o Brasil.

Entre 1960 e 1980, ele realizou shows em inúmeros lugares acompanhando o humorista Coronel Ludugero. Assim, conheceu e tocou com figuras como Luiz Gonzaga e Dominguinhos, virando também um ícone da Cultura Popular nordestina.

Gravou diversos vinis e deixou registrada sua passagem sonora entre nós. João do Pife morreu aos 78 anos, em 2009, na capital alagoana.

Fotos: Lucas Ferreira e Nasário Silva Jr.