Arte 2.0: exposição na Casa da Cultura junta arte tecnologia e interatividade
As obras “exigem” certa proximidade fazendo com que o espectador faça parte dela (Foto: Lucas Ferreira)
O ser humano vive num paradoxo existencial. Em tempos atuais, ao mesmo tempo que se priva da coletividade e quer se isolar, ele implora por ampliação. Quando o “eu” cria uma identidade para si e quer se conectar com o “outro eu” – as pessoas em redor –, há uma troca. E nesse elo, existe um pouco de morte.
Para se ampliar, para entrar em contato, é preciso morrer e a nossa identidade, assim, ganha sempre novos traços. Ganha sempre uma nova vida, uma nova camada.
Por isso, estamos diariamente mudando por conta das características que envolvem o nosso dia a dia e o ambiente onde estamos. É inevitável não sermos sempre os mesmos.
E é com esta perspectiva física e filosófica que se dá a exposição “Corpo Arte Contato – 2º Ato: Arte Tecnologia e Interatividade”, inaugurada nesta segunda-feira (20), dando início às comemorações de 20 anos da Casa da Cultura, no Centro de Arapiraca.
As peças de Judivan Lopes têm natureza híbrida, misturando arte com a esfera tecnológica (Foto: Lucas Ferreira)
Esta mostra do professor de Arte do Instituto Federal de Alagoas (Ifal) campus Arapiraca, Judivan Lopes, em parceria com o Grupo de Estudo e Produção de Arte Tecnologia e Interatividade (Gep@arti), traz instalações artísticas pensadas para o público, literalmente, se aproximar delas; fazer parte delas.
Obras híbridas, elaboradas em 2018 a partir de tecnologias tradicionais e emergentes, com xilogravuras, artefatos cenográficos, esculturas e outros elementos aliados a componentes eletrônicos.
A primeira é a “Cabeça a Prêmio 2.0”, com frios olhares xilográficos de personagens enfocando a raiva no alvo: nós. Há um dispositivo que dispara “tiros” sonoros e sempre seremos a vítima. No canto inferior direito, uma criança, também apontando, mas ainda com inocência no semblante. Na parte central da peça, um coração encarnado gigante, correlacionando a todos.
Outra interessante é a “Zig Zig: Acasalamento Cibernético”, com a dança do amor de duas libélulas em xilogravura. Há uma câmera que capta a feição do espectador e, conforme identifica seu gênero, umas dos “zig zigs” bate as suas asas cibernéticas – o macho ou a fêmea. Há uma interação contemplativa por conta da proximidade.
As instalações trazem consigo uma experiência sensorial com quem estiver envolvido (Foto: Lucas Ferreira)
Já a “Som na Chapa 2.0” traz uma placa de aço galvanizado com pó amarelo de mármore em cima, sentindo as vibrações sonoras captadas pela energia do toque. Assim, abrem-se frequências e, por meio do som, criam-se imagens abstratas em uma geometria particular.
Uma obra que remente à nostalgia é a “Fogão a Lenha: Fogo Remoto”. Há uma panela de barro, um fogão típico dos interiores nordestinos, abanos de palha. Sensores de ruído e ultrassônico percebendo as abanadas do público que interage até o “fogo” surgir na tela.
A última é o “Coração Termodinâmico”, feito de material sintético, borracha de silicone, cano de PVC e espuma de poliuretano, cria um totem de entranhas de dois metros de altura. Abriga em si um coração que pulsa sua luz quando o espectador interage – e se faz parte da obra – pondo seu dedo num dispositivo que percebe a pulsação e transfere isso para o coração siliconado. Um convite à vida espelhada.
Além desta, Judivan Lopes está com uma exposição em Maceió, no Sesc Centro, chamada “Xilentropias”. Já a “Corpo Arte Contato – 2º Ato: Arte Tecnologia e Interatividade” ficará aberta aos arapiraquenses no rol da Casa da Cultura até o próximo dia 15 de setembro. Uma oportunidade de se conectar, morrer, viver de novo, várias e várias vezes.