Pais compartilham experiências emocionantes sobre o cuidado de crianças autistas
“Mesmo sem saber, me ensina a viver, me traz felicidade, me enche de orgulho, me mata de saudade”. O trecho do poema O Inesperado, de Ricardo Miranda, resume bem o que sua filha Sofia, de 8 anos, significa para ele. Nesse mesmo poema, o pai descreve que não vê o olhar, nem ouve a voz de Sofia e que até tenta entender, mas não consegue. Só que com paciência, ele insiste, persiste e nunca desiste de sua filha autista.
Ricardo tanto persistiu, que conseguiu e na tarde desta terça-feira (03) sua relação com Sofia foi compartilhada durante uma roda de conversa no Centro de Referência Integrado de Arapiraca (Cria) com profissionais das Unidades Básicas de Saúde, da Educação e da Assistência Social do município.
A programação faz parte da Semana de Conscientização do Autismo, organizada pela Prefeitura de Arapiraca através do Espaço Trate, que teve início nesta segunda-feira (02), quando se comemora o “Dia A” da doença, com uma sessão de cinema adaptado com pipoca.
A enfermeira e gerente do Trate, Mônica Suzy Rocha Barbosa, que trabalha com saúde pública há 19 anos, ressaltou que a compreensão desse universo deve ser todos os dias. “Na verdade a conscientização deve começar assim que o bebê nasce, a partir daí a mãe deve estar atenta aos primeiros sinais e notando algo diferente, procurar um especialista o quanto antes”, destacou. “Ao se envolver e se sensibilizar, as peças se encaixam”, completou.
Foi o que aconteceu com Ricardo, Clesiane e Michely. Todos, durante seus relatos, emocionantes diga-se de passagem, reconheceram que quando seus filhos, Sofia, Caio e Miguel, respectivamente, receberam o diagnóstico de autismo, tudo passou a fazer sentido.
“A criação da minha filha mudou de direção mas o objetivo de dar uma boa educação e impor limites permanece”, afirmou Ricardo, que aos 41 anos dedica o seu tempo para cuidar de Sofia, que falou sua primeira palavra aos 4 anos olhando em direção a ele: “Sapo”, disse a pequena. “Para mim ela disse pai e eu sou o maior e melhor sapo do mundo para ela”, garantiu.
Já a artesã Cleisiane, mãe de Caio, 9 anos, disse que quando a palavra autismo entrou em sua vida ela passou a ver o seu filho como um desconhecido. “Eu, mãe de primeira viagem, tive uma gestação tranquila, planejei tudo, e me vi com um filho autista, não foi nem é fácil. Mas hoje me considero abençoada”, reconheceu.
Ela agradeceu o tratamento humanizado dos profissionais do Trate e sensibilizou os demais servidores da Saúde e da Educação ao pedir um olhar diferenciado. “As crianças autistas também precisam de cuidados na parte clínica, assim como qualquer ser humano, e ter um profissional que acolha, que se destaque, é de suma importância para a gente”, falou.
Foi justamente esse tratamento diferenciado que fez Michely, mãe de Miguel, sair de Paulo Afonso, na Bahia, onde nasceu e se criou, para morar em Arapiraca. Técnica em enfermagem, Michely contou que renunciou muitas coisas, teve sua vida e rotina alteradas para cuidar do seu filho especial. “Vamos ser gentis e tolerantes, pois não sabemos a batalha que a outra pessoa enfrenta, eu particularmente vivo um mundo novo de um dia para o outro, mas não sou coitadinha, sou guerreira”, afirmou. “Vamos somar e propagar essa mensagem”, pediu.
Trate
O espaço de Reabilitação e Reintegração de Crianças com Autismo, o Trate, existe há 7 anos no município de Arapiraca e oferece, de segunda a sexta-feira, apoio social e psicológico a 58 crianças. O trabalho das terapeutas, realizado com ética, comprometimento e respeito, deve continuar em casa, por isso é importante a intensa participação da família no processo.