Prefeitura, Universidade e usuários discutem a saúde da população negra de Arapiraca
Joana é branca e sente dor durante o parto. Para amenizar, o profissional, seja ele médico ou enfermeiro, aplica uma dose X de anestesia. Paula também está em trabalho de parto, sente dor e é negra. A dose aplicada nela é a metade da aplicada em Joana, visto que negros são predispostos a suportar a dor. Tal prática ocorre corriqueiramente e é considerada uma violência obstétrica.
Outro exemplo são as campanhas para prevenir o câncer de pele. Em sua maioria, os personagens são brancos. Quando a população negra, apesar de produzir uma quantidade maior de melanina, também precisa de cuidados expor sua pele ao sol.
Isso não é conversa mole. De fatos essas práticas racistas acontecem e é para evitar tal tipo de situação dentro do Sistema Único de Saúde (SUS) que a prefeitura de Arapiraca, através da Secretaria de Saúde, realizou, nesta quarta-feira (22), em parceria com a Universidade Federal de Alagoas, o I Seminário Municipal de Saúde da População Negra.
O projeto faz parte do Programa PET–Saúde/GraduaSUS, do Ministério da Saúde, e teve como objetivo discutir políticas públicas para as comunidades quilombolas de Arapiraca – Pau d’Arco e Carrasco. Juntas, elas somam quase 500 famílias, todas atendidas pelo SUS, que tem, como um de seus princípios, a integralidade. Ou seja: o sistema de saúde deve estar preparado para ouvir o usuário, entendê-lo inserido em seu contexto social e, a partir daí, atender às demandas e necessidades desta pessoa.
“Precisamos pensar o que as diferentes populações precisam, quais são suas especificidades. Os negros, por exemplo e aproveitando a temática do seminário, adoecem como efeitos decorrentes do racismo, muitos vivem em condições de marginalidade e violência, já na zona rural ainda utilizam práticas de subsistência, outros foram escravizados”, explicou a psicóloga e tutora do PET-Saúde no curso de psicologia da UFAL, Flávia Regina Guedes Ribeiro.
É essa natureza peculiar que é passada, através do Programa, para os alunos dos cursos de Medicina, Serviço Social, Ciências Biológicas, Educação Física, Psicologia e Enfermagem. “O PET-Saúde tem como fio condutor a integração ensino-serviço-comunidade”, destacou Aruska Magalhães, coordenadora do programa no município.
“Dessa forma os profissionais saem da faculdade preparados para oferecer um serviço equitativo e igualitário à comunidade, que inclusive é a proposta do SUS, mas infelizmente não é colocada em prática por aspectos culturais, biológicos, territoriais e políticos”afirmou Flávia. “Mas, de antemão, o PET-Saúde pensa na capacitação dos profissionais que já estão atuando e muitas vezes têm dificuldade em identificar suas práticas racistas e discriminatórias. Eles não se analisam com medo de se descobrirem preconceituosos”, completou.
Racismo faz mal à saúde e é esse olhar diferenciado que o município, com o apoio da UFAL, quer passar para os servidores através da observação de alunos, professores e público-alvo. No caso, os negros.