29 de novembro de 2017

Exposições na Casa da Cultura elevam o negro ao seu devido lugar

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Exposições devem se estender agora até meados do mês de dezembro (Fotos: Lucas Ferreira)

Historicamente é inegável: os negros deram uma contribuição sem precedentes para a história da Humanidade, embora tenham sido tão maltratados nos últimos séculos. Eles ajudaram de forma direta tanto na construção desse novo mundo, como na perpetuação de significados existenciais através das mais diversas manifestações de Arte.

Por isso, a Prefeitura de Arapiraca está promovendo desde a semana passada a exposição “Afro Ancestralidade no Cotidiano Arapiraquense”, instalada no rol da Casa da Cultura e também dentro da Biblioteca Municipal Prof. Pedro de França Reis, com entrada franca ao público.

A mostra está dentro das reverências ao Dia da Consciência Negra. Nela, há pequenas exposições organizadas pela Secretaria Municipal de Cultura, Lazer e Juventude (SMCLJ), pelo Memorial Ceci Cunha e pela ONG Casa de Caridade — tendo à frente o pai Alex de Xangô —, com o apoio ainda do artista Ivan Jorge, este professor da comunidade Pau d’Arco, e do pai Wellington d’Oxum Pandá.

A quem não pode ir para a Casa da Cultura e conferir tudo isso de perto, vamos fazer uma pequena turnê virtual aqui com você, leitor, para evidenciar o que está sendo posto aos arapiraquenses lá.

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Exposição Negra Cor – Filhas de Quilombo

Na cidade de Arapiraca, há duas comunidades remanescentes dos quilombos: o Carrasco e o Pau d’Arco. Ambas carregam muitas histórias, sobretudo, de luta por espaço e pertencimento.

A proposta da “Exposição Negra Cor – Filhas do Quilombo” é homenagear e resgatar a cultura afrodescendente, através das mulheres que ajudaram a construir o tecido social dessas comunidades.

São griôs – mulheres sábias que detém a tradição oral e a repassam no cotidiano –, professoras, profissionais liberais, cidadãs, mulheres comuns.

E isto tem uma importância histórica e cultural, reforçando o olhar por meio da fotografia para estas heroínas anônimas (veja uma matéria especial sobre as nossas comunidades quilombolas aqui).

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Exposição de Discos de Músicos Negros

Aqui nesta mostra, logo na entrada na Biblioteca Municipal, há um acervo montado pelo mestre Paulo Lourenço da Silva, o “Paulo do Bar do Paulo”, grande incentivador cultural local que tem hoje com 85 anos de idade e mais da metade deles investidos no estudo musical.

Ele atua na Casa da Cultura no Espaço Multimídia que leva seu nome, o qual conta com centenas de vinis.

E o alvo foram eles: os tais vinis. Na seleção feita, há álbuns que vão desde a nossa MPB ao jazz, com exemplares de Milton Nascimento, Ella Fitzgerald, Mahalia Jackson, Djavan, Zezé Motta, Charlie Parker, Louis Armstrong, Art Blakey & Thelonious Monk, Nelson Cavaquinho, Sarah Vaughan, Dorival Caymmi, Luiz Melodia, Oscar Peterson, Charles Mingus, Paulo Moura, Elizeth Cardoso, Agostinho dos Santos e Djalma Corrêa, externando a força criativa dessas figuras emblemáticas.

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Exposição dos quadros do filme “Juremeiro de Xangô”

Contemplado pelo edital Curta Afirmativo 2014 da Secretaria do Audiovisual, lotada no Ministério da Cultura (MinC), o documentário arapiraquense “Juremeiro de Xangô” conta a história do babalorixá Pai Alex de Xangô e sua relação com a Jurema Sagrada.

Mostrando que as sabedorias dos antepassados e sua oralidade permanecem vivas, o doc de 26 minutos apresenta traços do imaginário afronordestino e suas crenças religiosas, além de entender e viver o mundo a partir desse viés.

No projeto audiovisual, foram encomendados vários quadros ao artista plástico Marcelo Mascaro, que em cada tela retratou um orixá. Um trabalho muito bem acabado e que está ilustrando o filme, agora exposto na Casa (veja mais na galeria abaixo).

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Exposição de livros sobre Arte e a Cultura Negra

Também na Biblioteca Municipal, foi montada uma estante exclusiva com uma série de publicações feitas por autores negros ou falando sobre o universo afro.

A curadoria realizada traz muito da historicidade por trás da condição do negro no nosso país e ainda títulos que reverberam a Arte e a igualdade entre os povos.

Alguns dos livros são “O negro no Brasil: história e desafios”, de Marcos Rodrigues da Silva; “Opará revisitado” e Panáfrica África Iya N’La”, de Severo D’Acelino; “Martin Luther King: o redentor negro”, de Terésio Bosco; “Saruê, Zambi!”, de Luiz Galdino; “A cor do preconceito”, de Carmen Lúcia Campos, Sueli Carneiro e Vera Vilhena; “Os negros na História de Alagoas”, de Alfredo Brandão; “Episódios do contrabando de africanos nas Alagoas”, de Abelardo Duarte; “O tigre da abolição”, de Osvaldo Orico; “Raízes do Brasil”, de Sérgio Buarque de Holanda; “O diário de Dandara”, de Cláudia Lins e Elis Lopes; “África: mãe quase desconhecida”, de Eduardo d’Amorim; “Literatura e afrodescendência no Brasil – volumes 1, 2 e 3”, de Eduardo de Assis Duarte; e “Que cara tem o Brasil?”, de Mônica Velloso, entre outros.

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Homenagem a mães-de-santo

No hall da Casa da Cultura, ainda há uma singela mostra com banners revelando ao público três das mais importantes mães-de-santo de Arapiraca: mãe Luci de Iemanjá, mãe Guida de Ogum e mãe Rita de Oxum.

Nesta perspectiva, nesta quinta-feira (30), haverá a entrega do Troféu Maria Pilar, esta que foi a primeira mãe-de-santo de Arapiraca, para cada uma delas.

O evento acontecerá logo após a 2ª Caminhada Contra o Racismo Religioso, que terá a Casa da Cultura como ponto de chegada. A caminhada se iniciará às 15h partindo da Praça do Bom Conselho, com uma feijoada oferecida ao final pelo pai Alex.

“Toda essa movimentação sinaliza o empenho do município em dar vazão à cultura afro e à sua contribuição histórica, elevando o negro a um pódio que ele, na verdade, sempre esteve. As portas da Casa estarão sempre abertas para esses debates e o aprofundamento deles”, pontua a diretora Leide Serafim.