O sol (e sal) nasce para todos: a história por trás dos caldinhos de Arapiraca
José Pedro da Silva e Maria Enedina da Costa Silva, já falecidos, não imaginavam que uma receita com basicamente feijão, charque, carne, coentro e cebola seria a responsável por manter um bar por 45 anos em Arapiraca.
O Caldinho do Pedrinho nasceu de uma bodega enfraquecida, no ano de 1973, alí no cruzamento da rua Florêncio Apolinário com a Marcelino Magalhães, no bairro Alto do Cruzeiro.
Na época, Pedro Balbino Neto, o segundo filho mais velho do casal, sugeriu que a mãe fizesse caldinho para movimentar o negócio da família.
Dona Enedina comprou a ideia e fez duas garrafas, mas pediu uma coisa: “antes de vender chame seus amigos para experimentar”.
O sucesso foi tão grande que no dia seguinte foram produzidas cinco garrafas de caldinho. Estas não foram para degustação, cada copo custava o equivalente a 30 centavos (nesse tempo a moeda era o Cruzeiro) e mesmo assim não deu para quem quis.
Para acomodar a clientela, José Pedro da Silva, que também trabalhava como marceneiro, confeccionou quatro mesas.
Mesas essas que até serviram no começo, mas depois de alguns anos o negócio foi ficando apertado e em 1981 o espaço passou pela primeira reforma, dois anos depois os quartos foram transformados em bar e em 1988 mais cômodos foram derrubados.
Para experimentar o Caldinho do Pedrinho os clientes não perdoam nem a calçada, que atualmente é utilizada aos sábados pelo bar.
Sobre o nome
Antes que alguém se pergunte “mas não foi a mãe do Pedrinho quem criou a receita? Por que não é caldinho da Enedina?”.
É que Pedrinho, além de ter dado a brilhante ideia de produzir a iguaria, nasceu com um desvio na retina causado por uma degeneração no nervo óptico e a família quis homenageá-lo.
Pedro Balbino Neto, 61 anos, dedicou a sua vida ao bar. “Eu vivi aqui dentro por amor”, afirma.
Atualmente “afastado” por problemas de saúde, Pedrinho diz que não tem dúvida que passa, até os dias de hoje, mais tempo no bar do que em casa. O que nunca foi problema para a sua esposa.
“O Caldinho é um ambiente familiar. Muitos dos meus clientes vinham para cá sozinhos. Depois começaram a frequentar com suas noivas, que vieram a se tornar esposas, tiveram filhos e agora vêm com seus netos”, conta ele, orgulhoso do estabelecimento ter perpassado gerações.
É o caso do cliente conhecido como Toninho. A equipe de reportagem estava conversando com Pedro e uma das suas irmãs, a Maria Luísa, na cozinha, quando o mesmo entra.
“Na época que eu comecei a tomar o caldinho do Pedrinho nem beber eu bebia. Eu comia caldinho com pão como lanche”, disse. Toninho fez questão de lembrar que tomou da primeira garrafa de caldinho e afirmou que o sabor é o mesmo, o que mudou, pelo menos para ele, foi o acompanhamento.
De acordo com o outro herdeiro do Caldinho do Pedrinho, que diariamente está na labuta no estabelecimento, José Flávio da Silva, nem a família enjoa. “E você já viu receita com amor e carinho enjoar?”, questionou Flávio. “Até para a praia a gente leva”, completou.
“Nem enjoa nem engorda, não é mesmo, Maria Luísa?”, perguntou uma cliente. “Ah, quantas calorias tem eu não sei, mas o charque é ‘bem gordo’”, respondeu, aos risos, a responsável pela cozinha do Caldinho do Pedrinho.
O sol nasce para todos
Dizer que alegria multiplicada é alegria redobrada é tão verdade quanto dizer que dois mais dois são quatro. A prova é o Bar do Caldinho, na Canafístula.
O filho de uma irmã de José Pedro da Silva morou um tempo em São Paulo e em junho de 1981 voltou para Arapiraca com a esposa e dois filhos.
Fernando Barbosa da Silva, 67 anos, tirava o “faz-me rir” da família com uma máquina de sorvete. Eis que meses depois, seu tio, a quem ele chamava de Zé Pedro, sugeriu: “vá morar na casa da sua mãe que eu te dou a receita do caldinho”.
A residência ficava a 120m de onde é o bar hoje. Fernando não pensou duas vezes. Tirou o inquilino e construiu um balcão de 1m e 20cm de comprimento e 60cm de largura. Deu uma pintada geral. Pegou a geladeira emprestada do sogro e transformou meio quilo de feijão em caldinho.
Só que não deu muito certo. “Falta um pouco de tempero”, arriscou um dos primos convidados para experimentar.
Fernando não sabe nem explicar, mas ele não só encontrou o ponto do caldinho como vende feito água. Em um sábado ele chega a vender 500 caldinhos.
“Tem gente de Maceió que encomenda. Porque lá não tem né, nem torresmo, nem caldinho”, afirmou com conhecimento de causa.
Sem falar no molho de pimenta. Fabricação própria da casa que passou a integrar o cardápio no ano de 1998. “70% das pessoas que frequentam o Bar do Caldinho compram o molho”, disse.
Entre os anos de 2009 e 2010, consciente que precisava evoluir e depois de algumas turbulências, Fernando começou a oferecer almoço. “A ideia foi tão bem aceita que eu comprei até uma casa própria”, relembra.
Além da “melhor feijoada da cidade”, que é feita pela Petrúcia, esposa de Fernando, e dos caldinhos de feijão, mocotó, macaxeira, sururu, bacalhau e camarão (ufa!), no Bar do Caldinho é possível encontrar de tudo (e muito, porque pense no tamanho da porção): buchada, sarapatel, coxinha, entre outras delícias.
Sobre a crise, ele falou que chegou, mas que mesmo assim acorda todos os dias agradecendo por estar vivo, pedindo a Deus sabedoria e certo de que “hoje é o dia mais feliz da minha vida, bora trabalhar e agradecer por cada cliente que entrar no meu bar”.
E é desse jeito que o Bar do Caldinho completa, no próximo dia 8 de novembro, 35 anos.
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