Fumicultura colocou Arapiraca no mapa do progresso
Foi no final dos anos 1940 que Arapiraca começou a aparecer como símbolo do progresso alagoano. Apesar de ter pouco mais de duas décadas de emancipada, a cidade já era invejada por seus vizinhos mais antigos. Nessa época, o fumo começou a se tornar para o Agreste alagoano o que o café representou para o Brasil durante muitos anos.
A fumicultura surgiu em Arapiraca como um rompimento da tradição latifundiária do estado, se mostrando como uma nova alternativa para o povo da região.
O historiador Zezito Guedes, em seu livro “Arapiraca através do tempo”, descreve a gênese do empresariado da região: “Aproveitando esses anos de bonança, milhares de camponeses promoveram-se facilmente. Iniciaram como trabalhadores alugados; passaram em seguida a moradores e, após algumas safras, alcançaram o lugar de meeiros. Na condição de meeiros permaneciam algum tempo e, juntando as economias, compravam alguns hectares de terra, passando assim a serem patrões e pequenos proprietários rurais”, diz ele em trecho da obra.
A fama do município ganhou a região e fez com que muitos moradores de cidades vizinhas investissem no município para melhorar de vida. Foi assim que aconteceu com o empresário Sebastião Pereira de Oliveira, o Seu Basto, de 72 anos, que é natural de Coité do Nóia.
“Cheguei em Arapiraca em 1965. Nessa época eu era caminhoneiro e tinha acabado de casar. Ao perceber que a cidade de Arapiraca estava ampliando sua fama na fumicultura eu resolvi investir no setor e acabei comprando algumas tarefas de terra”, disse Seu Basto, pai de oito filhos, e avô de nove netos.
Com o aumento da produção, o empresário precisou de muita gente para trabalhar. E foi dentro de um dos galpões de fumo de ‘Seu Basto’ que a aposentada Olívia Ferreira dos Santos, de 70 anos, conseguiu tirar o sustento e criar, junto do marido, Manoel Francisco dos Santos, os sete filhos.
Ela trabalhou na produção do fumo de corda nos anos 70, época mais rentável do produto em Arapiraca, quando muitos armazenadores passaram a cortar o fumo em rolo e embalá-lo em saquinhos plásticos. Empresas como Extraforte, Super Bom, Fumo do Bom, Rei do Nordeste, Du Melhor, Sempre Forte, Fumo Jangadeiro, e Fumo Jóia intensificaram suas produções. Vale ressaltar que algumas delas estão em atividade até hoje.
“A gente batia recorde destalando fumo. Eu e meus filhos mais velhos, Reginaldo, Givando, Edileuza, Zuleide, e Edilene, trabalhávamos pesado, e lembro que a gente conseguia destalar mais de 100 kg de fumo por dia”, disse dona Olívia, com orgulho.
Segundo a aposentada, o sofrimento era grande naquela época e as condições de trabalho bastante precárias. “Quase morri destalando e ‘virando’ fumo”, disse ela se referindo à cura da folha, feita sem nenhum tipo de proteção.
É que o contato direto com a folha do fumo molhada causa uma intoxicação forte, recorrente em todos que trabalhavam na colheita/destalação/cura da folha de fumo.
“Perdi as contas das vezes em que eu vomitei sangue. Cheguei em casa tonta dezenas de vezes, sem força e com as mãos queimando. A gente inalava todo tipo de coisa durante o trabalho e naquela época não tinha o que se fazer. Quem adoecia era levado para casa ou para o hospital, em último caso”, relatou dona Olívia.
Os sintomas eram da Doença do Fumo Verde, uma intoxicação causada pela nicotina presente na folha e acionada pela umidade, geralmente causada pelo próprio orvalho do ambiente.
Declínio do setor
No final dos anos 80 e inicio dos anos 90, a fumicultura começou a sofrer seu declínio As causas desse processo estavam relacionadas ao preço internacional do fumo negro, aos altos custos da produção, ao aumento da industrialização do tabaco, principalmente na fabricação de cigarros, o que gerou à redução do número de usuários do fumo de corda, principal produzido em Arapiraca.
Arte e cultura
Durante o dia de trabalho, as destaladeiras de fumo se reuniam e cantavam músicas que contavam a história do povo nordestino, principalmente da região do Agreste alagoano. No vídeo abaixo, antigas destaladeiras se reúnem para relembrar os tempos de colheita e, acompanhadas do mestre Nelson Rosa, que nos deixou precocemente este ano, cantam algumas das canções que embalaram os dias sofridos de trabalho.
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