16 de outubro de 2017

Esperidião Rodrigues: conheça a história do responsável pela emancipação

Para fazer valer a história, a memória (principalmente dos familiares) e a justiça, dois pontos devem ser observados antes de qualquer coisa: Manoel André Correia dos Santos foi o fundador de Arapiraca, lá no ano de 1848, mas foi Esperidião Rodrigues da Silva o responsável pela emancipação política do município, que até o dia 30 de outubro de 1924 pertenceu a Limoeiro de Anadia.

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Sobre Esperidião

O filho de José Veríssimo Nunes dos Santos e Ana Maria da Silva Valente nasceu no dia 16 de julho de 1858 na Vila de Cacimbinhas. Seis meses depois do seu nascimento, o pai de Esperidião resolveu se mudar com a família para o povoado de Arapiraca, onde já residia Manoel André, que chega a ser parente do emancipador.

Foi uma infância tranquila, brincando entre árvores e pássaros e sonhando com uma cidade tranquila e bem povoada. Seu pai, um católico fervoroso, criou a família dentro dos padrões de honestidade, respeito e amor ao trabalho.

Em 1875, na época com 17 anos, Esperidião se casou com sua prima, Joana Belarmina de Macedo, com quem teve sete filhos. Em 1897, o jovem, já viúvo, casou-se pela segunda vez. Da união com Balbina Farias de Melo, Esperidião teve nove filhos. Não bastasse, Esperidião se casou pela terceira vez no ano de 1936 com Maria Rodrigues. Dessa relação, não nasceu filhos.

Aos 85 anos de idade, Esperidião Rodrigues da Silva falece com a consciência tranquila do dever cumprido. Ele foi sepultado no dia 03 de julho de 1943 no cemitério local – que inclusive foi construído por ele quando prefeito.

O que conta a história

O grande sonho de Esperidião era montar uma casa de comércio. Ele sempre que levava cargas de algodão para serem vendidas em Penedo voltava com tecidos e outras mercadorias para montar sua loja. Caminho esse que ficou conhecido como “A rota do São Francisco”, que mais tarde ganhou uma guarda policial para proteger os viajantes das estradas desertas.

Como quem acredita sempre alcança, em 1880 Esperidião tornou-se o primeiro comerciante de Arapiraca e quatro anos depois ele criou a feira de Arapiraca a fim de facilitar a vida dos moradores. Além do lado empreendedor, Major Esperidião tinha uma veia política e participava da administração de Limoeiro.

Tanto que conseguiu para Arapiraca, por meio de requerimentos, uma escola pública municipal que passou a funcionar em 1891, uma agência dos Correios em 1892 e nesse mesmo ano também conseguiu o Distrito Civil de Arapiraca com a criação do Cartório de Registros de Nascimentos.

Em 1908, Esperidião Rodrigues adquiriu instrumentos musicais na França e criou uma escola musical e uma orquestra, que um ano mais tarde já embelezava as festas. Eleito presidente do conselho de Limoeiro, ele favoreceu Arapiraca com a construção de mais uma escola em 1912.

Três anos mais tarde Esperidião foi eleito Intendente de Limoeiro e em 1918, seu último ano no cargo, ele criou o Tiro de Guerra em Arapiraca, que já se considerava um lugar independente, faltando “apenas” a emancipação e a freguesia eclesiástica.

Desgostoso com a política e se sentido traído por alguns jovens que queriam afastar “o velhinho”, alegando que o mesmo “não servia mais”, Esperidião vendeu suas propriedades, reuniu os filhos e foi fixar residência no povoado de Igreja Nova. Quando a saúde do chefe da família começou a preocupar, mais uma mudança, foram para o povoado Lagoa Comprida, em São Brás, às margens do Rio São Francisco.

Emancipação Política

Em abril de 1914 chegou em Lagoa Comprida um sobrinho de Esperidião, o Domingos Lúcio da Silva, com uma carta. O documento pedia a presença de Esperidião para liderar os rumos da emancipação do povoado de Arapiraca da Vila de Limoeiro de Anadia.

Esperidião reúne a família e informa que Arapiraca precisa de seu empenho e que tudo fará para ver concretizado o sonho de todos os arapiraquenses.

Ainda no mês de outubro, o político seguiu a cavalo para Maceió a fim de manter contato com as autoridades do estado para que o processo de Emancipação tivesse trâmite legal e fosse votado pelos deputados.

O tempo de espera foi longo. Mas Esperidião não desistiu. Durante 40 dias ele não deixou um sequer sem ir ao Palácio. Ao se aproximar as secretárias já apontavam: “Lá vem o homem dos olhos azuis”.

Em uma dessas idas, Esperidião encontrou o deputado Odilon Auto, de quem conseguiu a aprovação de assinar a proposta apresentada. Mas não dependia só dos deputados. O secretário da Fazenda, que na época era o Castro de Azevedo, tinha que autorizar.

Apesar de intransigente e alegar que Limoeiro de Anadia seria prejudicada, Castro disse a Esperidião: “Não prometo trabalhar pela emancipação de sua terra, mas prometo não criar dificuldade às suas pretensões”.

Neste mesmo dia o processo subiu para plenário e recebeu voto favorável.

No dia 31 de maio de 1924 Esperidião recebeu um telegrama oficial com a seguinte mensagem:

“Coronel Esperidião Rodrigues
Arapiraca – Limoeiro
Acabo de sancionar Projeto Lei criando o município de Arapiraca que cuja população laboriosa, adiantada e progressista, congratulo por intermédio amigo, grande incansável paladino dessa conquista, que representa ato de justiça aos poderes públicos a um povo que se levanta por si próprio, que tem iniciativa e que progride.
Cordiais saudações
Ass. Fernandes Lima
Governador do Estado.”

Inclusive tal telegrama está nas mãos de Esperidião até hoje. Isso mesmo. Mas na estátua do emancipador, localizada na Praça Luiz Pereira Lima. O documento chegou até a ser roubado este ano, mas foi devolvido ao dono.

Estátua de Esperidião Rodrigues, na Praça Luiz Pereira Lima

Estátua de Esperidião Rodrigues, na Praça Luiz Pereira Lima. (Foto de Lucas Ferreira)

Apesar da sanção governamental, várias questões burocráticas tiveram que ser superadas. Como o governador José Fernandes de Barros Lima passado o cargo para o Dr. Pedro da Costa Rego no dia 12 de junho de 1924, coube a nova gestão a honra de no dia 30 de outubro, com festa, empossar a Junta Governativa de Arapiraca e declarar sua verdadeira Emancipação.

O município de Arapiraca ficou com uma área de 614 km² e com uma população de 15.000 habitantes.

No dia 1º de janeiro de 1925, Esperidião foi eleito, através do voto popular, o primeiro prefeito de Arapiraca, tendo como vice José Zeferino de Magalhães. Eles governaram até 1928.

Em 1930, Esperidião foi eleito pela segunda vez prefeito. Dessa vez seu vice foi Antonio Romualdo. A dupla seguiu no comando até 1932, quando aconteceu a Revolução Constitucionalista e a partir daí os prefeitos passaram a ser nomeados pelos interventores.

Esperidião ilustra o primeiro prefeito de Arapiraca na galeria dos prefeitos, localizada na Casa da Cultura, no Centro. (Foto de Lucas Ferreira)

Esperidião ilustra o primeiro prefeito de Arapiraca na galeria dos prefeitos, localizada na Casa da Cultura, no Centro. (Foto de Lucas Ferreira)

Durante seus mandatos, o prefeito realizou ações que foram fundamentais para o início do desenvolvimento de Arapiraca, dentre elas:

• Criação da feira de Arapiraca oferecendo incentivo para que os comerciantes viessem dela participar;
• Foi criada a guarda municipal;
• Construiu o cemitério municipal, onde hoje encontra-se a Concatedral;
• Cedeu parte de suas terras para a abertura de uma via pública, atualmente a Avenida Rio Branco;

Antiga Rua do Cedro em 1945, atual Avenida Rio Branco, partindo da Rua Nova em direção das Cacimbas.

Antiga Rua do Cedro em 1945, atual Avenida Rio Branco, partindo da Rua Nova em direção das Cacimbas.

• Neste mesmo logradouro doou o terreno para a construção da primeira sede da prefeitura de Arapiraca, onde hoje funciona a Câmara de Vereadores.

O que conta a família

Não foi fácil achar, mas graças ao Carlos Henrique Rodrigues de Souza, funcionário da prefeitura e bisneto de Esperidião, a reportagem chegou a quatro filhas de Gundizalves Rodrigues de Melo e Mara Lúcio.

Gundizalves era o filho mais novo do segundo casamento de Esperidião.

Gundizalves era o filho mais novo do segundo casamento de Esperidião.

Maria de Fátima Rodrigues de Souza, 64 anos, Maria Celeste Rodrigues, 68, Roza Lúcio Rodrigues Carnaúba, 80 e Maria Salete Rodrigues de Araújo, são netas e memória viva do emancipador.

Foto de Lucas Ferreira

Foto de Lucas Ferreira

 

Elas contaram que os 40 dias que Esperidião passou em Arapiraca foi o mínimo. Para que o município conseguisse a tão sonhada emancipação, era necessário ter uma economia independente e população suficiente. Bom, tais exigências eram pequenas perto da vontade e garra do Major.

Todas às segundas-feiras, ao final da Feira Livre, Esperidião perguntava qual o feirante que teve prejuízo, caso existisse, ele arcava. “Ele queria que Arapiraca crescesse e se o comerciante levasse prejuízo, ele deixaria de vir para a feira, o que não poderia acontecer de jeito nenhum”, contou, emocionada, uma das irmãs.

Elas também mencionaram a atual Avenida Rio Branco, que era praticamente toda do avô, que saiu dando terrenos para a população aumentar. E mesmo com tantas realizações, uma das netas diz que ele não só saiu desgostoso de Arapiraca, como já foi relato nesta matéria, como chegou a ser “expulso”.

Mas o que não foi problema, Esperidião não só conseguiu a emancipação (mesmo muita gente dizendo que ele nunca iria alcançá-la) como escolheu a data 30 de outubro por ser aniversário de um dos seus filhos, o jornalista Serapião Rodrigues de Macedo. Serapião ajudava muito o pai e recebeu essa homenagem.

Mas quem ganhou, mesmo, foi a família, que mesmo tendo passado tantos anos, rega a semana deixava por Esperidião. “Era um líder corajoso, honesto, respeitador, que lutou com todas as forças que tinha e nunca perdeu a esperança de servir a humanidade”, finalizou a neta Salete.

Salete nasceu um ano antes de Esperidião falecer. (Foto de Lucas Ferreira)

Salete nasceu um ano antes de Esperidião falecer. (Foto de Lucas Ferreira)