Centro de Referência orienta e acolhe mulheres vítimas de crime na internet em Arapiraca
Relatos de mulheres descrevem que rejeição é um dos fatores motivadores da violência na internet
Joana Jatobá, assistente social, em momento de atendimento no CRAMSV
A rejeição é um dos fatores motivadores que levam homens a cometer mais um tipo de violência contra a mulher: a exposição da intimidade feminina na internet e redes sociais, através de fotos ou vídeos, sem a sua autorização, com o propósito de causar humilhação. Essa constatação é observada a partir de relatos de vítimas que procuram apoio no Centro de Referência de Atendimento a Mulheres em Situação de Violência (CRAMSV), que descrevem o ato comumente ligado a uma vingança.
“Atualmente, estamos nos deparando constantemente com uma nova categoria de violência contra a mulher, que pode ser chamado de crime cibernético. Este tem chegado constantemente aos nossos cuidados, nos preocupando com os danos psicossociais que causam. A democratização da internet veio como um ganho fenomenal, no entanto, ela traz consigo muitos problemas em relação ao seu mau uso”, explicou Joana Jatobá, assistente social do CRAMSV.
De acordo com a assistente social, o número de registros de casos de exposição de mulheres em redes sociais é crescente. “Diante desses fatos, estamos alertando as mulheres e buscando orientá-las, no sentido de que saibam que existem órgãos de apoio que podem acompanhá-las, a exemplo do Centro de Referência de Atendimento a Mulheres em Situação de Violência ”, completou.
Em muitos dos casos, fotos e vídeos íntimos que caem em domínio público são compartilhados por ex-companheiros que não aceitam o término do relacionamento. Segundo Joana Jatobá, o ato de covardia reflete um comportamento machista. Ela ainda destaca a reação preconceituosa da sociedade, diante do tema.
“Embora se fale em avanços de trato igualitário entre homens e mulheres, ainda há muito o que conquistar. Quando comparamos a reação da sociedade diante da exposição de cenas de intimidade, há uma maior rejeição social à mulher do que ao homem. Isso é fato, e precisamos refletir sobre esse comportamento e como podemos mudar”, destacou Joana Jatobá.
Entre os casos registrados no CRAMSV, a assistente social destaca um que reflete a realidade de mulheres atendidas. O nome utilizado para retratar a história real é fictício, para não expor à vítima. Aos 28 anos, em um relacionamento de confiança com o seu companheiro, Aline Maria autorizou a gravação de vídeos com cenas de intimidade do casal. Mas não imaginava que, após encerrar o relacionamento, ele seria capaz de fazer ameaças com as imagens e compartilhar nas redes sociais, causando danos à sua imagem e saúde.
A foto ou vídeo, mesmo tendo sido autorizado, a sua publicação sem o consentimento configura crime contra a honra. A legislação atual permite o enquadramento do ato, sob a ótica da responsabilidade civil (danos morais) e criminal. Nesta última esfera, além dos crimes contra a honra (injúria, calúnia e difamação), as mulheres vítimas adultas, se sofrerem violência psicológica e danos morais, encontram amparo na Lei Maria da Penha (Lei nº 11.340/2006), e as menores de idade também são protegidas pelo Estatuto da Criança e do Adolescente.
A Assistente Social conta que, além do problema de divulgação da intimidade, algumas mulheres ainda passam pelo constrangimento de terem suas imagens vinculadas a fotos ou vídeos, frutos de montagem. O ato costuma causar males e transtornos para a vítima, que muitas vezes passa a desenvolver sintomas de depressão, ansiedade, pânico, fobia social e outras doenças relacionadas ao emocional.
Nesses casos, a equipe do CRAMSV reconhece ser imprescindível o acolhimento dessa mulher, prestando orientações e apoio, desde a questão psicológica à jurídica, já que é preciso cuidar do assunto com o status de crime, sem descuidar do fator psicológico. “As mulheres devem buscar o recurso jurídico, por atuar como um meio de proteção a esse tipo de violência. A punição é um começo. As vítimas e a sociedade precisam entender que a culpa é do agressor e não há justificativas para qualquer tipo de violência, a exemplo dessa do campo da internet ”, ressaltou Joana Jatobá.
Autor: Ana Cavalcante