12 de novembro de 2016

“Autistas ou não, pais devem ser protagonistas na Educação dos filhos”, diz especialista

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O Transtorno do Espectro Autista (TEA) ainda é um tabu em nossa sociedade. Não é por conta de uma não aceitação a este condicionamento, a este diagnóstico, mas, sim, pela falta de conhecimento recorrente sobre o assunto.

Visando ampliar esses horizontes sobre o tema, ocorreu nesta sexta-feira (11) e sábado (12) o 4º Simpósio Autismo – Crianças Autistas Não Nascem com Manual: uma Capacitação Para Todos.

O concorrido evento foi realizado no auditório do Centro de Referência Integrado de Arapiraca (Cria) e teve a presença tanto de pais e familiares, como de profissionais das áreas de Educação Física e de Saúde, como psicólogos, terapeutas ocupacionais, fisioterapeutas, assistentes sociais e dentistas, entre outros.

Quem mais uma vez ficou a cargo da organização desta 4ª edição do simpósio foi a Associação de Pessoas com Transtorno Autístico de Alagoas (APTAA), que trouxe diversos especialistas para tratar do assunto.

“Estamos trabalhando para a coletividade. Não pelos filhos dos pais associados, mas pelos filhos de Arapiraca, de Alagoas. Mais pessoas precisam de informação sobre o autismo e nosso dever é repassar o que já sabemos. E ver as famílias se redescobrindo nos emociona muito”, comenta a presidente da APTAA, a odontóloga Cláudia Valéria Lira.

Potencialidades

A pequena Sofia, de 6 anos, hoje consegue entrar em um consultório odontológico com tranquilidade. No começo, não se sentia à vontade em sentar em uma cadeira, deixando que um desconhecido mexesse em sua boa.

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Nesta sexta (11), durante a palestra “Atenção Odontológica ao Paciente com Autismo: uma Abordagem Multidisciplinar”, da cirurgiã dentista Betatuska Frazão, especialista em pacientes especiais pela Faculdade de Odontologia de Pernambuco, um filme passou na cabeça do professor de karatê Ricardo Miranda, pai da Sofia.

A especialista mostrou todas as técnicas usadas para a abordagem dentro do consultório como a “terapia do abraço”, “contenção mecânica” e “sedação consciente”, explicando também a necessidade de um atendimento mais humanizado.

“Agora, a Sofia vai sozinha para a sala da dentista, após um período de adaptação até que ela ganhasse confiança na profissional e em si mesma”, relata Ricardo. Sua filha estuda atualmente o 1º ano no Colégio Alfa e tem dado notórios traços de avanço.

Na sequência de atividades do evento, houve a exibição do documentário “O Mundo de Pedro: Do Bananês ao Português”, dirigido pela psicóloga, pedagoga e neuropsicóloga Ana Paulo Rios, especialista em Desenvolvimento Humano.

O enredo tratou de toda a melhora do processo cognitivo do pequeno Pedro, de 11 anos, que só falava palavras e frases soltas – às vezes, direcionadas para uma banana descascada. Daí o nome do documentário caseiro.

O primeiro contato da psicóloga com o filho da dona Edvânia Freitas foi em 2011. Este ano, ele apresenta melhoras enormes e já não tem tanta ansiedade com pessoas que não conhece. A projeção e o depoimento da mãe de Pedro fizeram o público verter lágrimas.

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“Fiquei em depressão ao descobrir que meu filho não era ‘normal’. Mas só depois é que vim perceber que era eu quem tinha que me adequar à visão de mundo dele tinha para, então, poder entendê-lo. E a Ana Paula Rios foi um anjo de luz para esse clarear em nossas vidas, porque pudemos ver finalmente todas as potencialidades do meu filho aflorando aos pouquinhos”, comenta Edvânia, que participa atualmente de grupos de pais e mães azuis – azul é a cor do autismo.

Para a psicóloga, o que houve foi uma reconstrução de laços entre ela e o filho Pedro, que mal dialogavam. Agora, ambos falam a mesma língua.

Poder de transformação

As famílias têm o poder de transformação dentro de suas casas. É o que aponta o psicólogo carioca Fábio Coelho, formado em Análise do Comportamento Aplicada (terapia ABA) com especialização em TEA.

Ele foi o primeiro palestrante deste sábado (12) com a temática “Os Pais como Coordenadores do Tratamento do Filho com TEA”.

“Autistas ou não, os pais devem ser os protagonistas na Educação de seus filhos. Para os genitores de crianças com o Transtorno do Espectro Autista, posso dizer que eles são a principal peça no tratamento. Muitas famílias passam por um processo de negação, no começo da descoberta. Não aceitam a condição daquela criança ter autismo. Então, é necessário, sim, um acompanhamento profissional para a prevenção de estresse, para o enfrentamento de uma nova realidade”, reflete.

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Segundo ele, essa não aceitação inicial é um período de “luto”. Dessa parte, vem a seguir a “luta”, o enfrentamento. A partir daí, focam-se nas possibilidades e nas potencialidades de cada criança e não somente nas dificuldades.

“Os grupos de pais, como a APTAA aqui em Arapiraca, fazem um trabalho excelente, pois são pais experientes que passam seus saberes a outros que estão num mundo novo, ainda receosos. Eles compartilham sofrimentos e também vivências e ganhos. A ideia é sempre estimular para que o tratamento comece o quanto antes para a criança não ‘perder tempo’, podendo assim aprender muito mais e desenvolver melhor suas cognições”, pontua Fábio Coelho, que é o criador da Academia do Autismo, no Rio de Janeiro.

Aquarela

No último dia do evento, a surpresa ficou por conta da apresentação de dança do Grupo Aquarela – que, além disso, estimula a contação de histórias, brincadeiras populares e oficinas de culinária e de expressão de sentimentos.

Os componentes do grupo executaram um número performático com direito a cartazes desenhados por eles próprios e confetes, ao som da canção “Aquarela”, de Toquinho. Depois, o pequeno Gabriel Melo fez sua deixa na flauta doce, a tocar “Asa Branca” e outros tons, arrancando também os aplausos do público.

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Ainda houve palestra, no restante do dia, do educador físico Thiago Lima, especialista em Educação Física na Educação Básica pela Faculdade Integrada Tiradentes (Fits), sobre “Educação Física e TEA: uma Proposta de Colaboração”, fazendo uma intersecção entre terapia, escola e família para a construção de um dia a dia mais produtivo e o desenvolvimento mais eficaz da coordenação motora.

Logo após, ocorreu a apresentação “A Arte do Circo no Trate: uma Experiência Azul no Universo do Circo”, com as crianças que fazem aulas semanais na Escola Municipal de Circo Teófanes Silveira – Palhaço Biribinha.

Posteriormente, encerrando o 4º Simpósio Autismo, a psicóloga Elizete Balbino, com especialização em Educação Pré-Escolar e Alfabetização e mestre em Educação Brasileira pela Universidade Federal de Alagoas (Ufal), fez uma palestra a respeito da “Inclusão Escolar de Crianças com TEA: uma Reflexão à Luz da Legislação Brasileira”, a colocar em voga um novo panorama no ensino do país.

“É ideal que uma movimentação dessas aconteça aqui em Arapiraca, tendo em vista que é uma cidade-polo e referência nesses serviços, afinal, dispõe de espaços voltados para esse atendimento especializado”, coloca o fisioterapeuta Laerte Firmino Jr., frisando o Espaço Trate e o Complexo Multidisciplinar Tarcizo Freire, onde atua.

Ele ainda detalhou que, desde o porteiro até o profissional do atendimento direto, todos devem estar preparados para um acolhimento humanizado do paciente. “Todos temos que estar engajados. Sempre”.

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