11 de outubro de 2017

Cinco grandes artistas de Arapiraca que talvez você não conheça direito

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Todos eles são mestres da Cultura Popular de Arapiraca, título dado em 2013 (Fotos: Reprodução)

Zezito Guedes, Afrísio Acácio, Zé do Rojão, Paulo do Bar, Nelson Rosa, Palhaço Biribinha, Hermeto Pascoal. Certamente, você já deve ter ouvido falar nesses arapiraquenses ou radicados aqui na cidade.

Mas na matéria especial desta quarta-feira (11), estamos trazendo alguns artistas – igualmente grandes – que são pouco conhecidos pelo seu próprio povo. O que não é nenhum desmérito. É preciso conhecê-los para depois então reconhecê-los pelos seus trabalhos no fazer cultural.

E Arapiraca sendo ainda tão jovem, beirando os 93 anos, recebeu muita gente boa de fora que depositou seus sonhos no município, acabou ficando na “Terra de Esperidião Rodrigues” e virou arapiraquense.

Veja de perto essa lista, onde todos eles são mestres da Cultura Popular de Arapiraca, título dado (alguns in memoriam) em 2013 pela Secretaria Municipal de Cultura, Lazer e Juventude:

João do Pife

Por essa você não esperava, hein? Mesmo nascido em 1932 na cidade de Porto Real do Colégio-AL, foi em Arapiraca que João Bibi dos Santos começou a tocar pífano. Autodidata, ele manuseava o instrumento que depois se integrou a seu nome, justamente quando ajudava seus pais nas lavouras de fumo.

Décadas depois, a cidade viria a ser considerada a “Capital Brasileira do Fumo”, vivendo sua era do “ouro verde” e se acendendo de vez no coração de Alagoas.

Foi nessa época que o agora chamado João do Pife também crescia; já estava ganhando o país e levando o nome e a Música do nosso estado para todo o Brasil.

Entre 1960 e 1980, ele realizou shows em inúmeros lugares acompanhando o humorista Coronel Ludugero. Assim, conheceu e tocou com figuras como Luiz Gonzaga e Dominguinhos, virando também um ícone da Cultura Popular nordestina.

Gravou diversos vinis e deixou registrada sua passagem sonora entre nós. João do Pife morreu aos 78 anos, em 2009, na capital alagoana.

Seu Cecílio

Nas imediações da Praça dos Curis, existe uma barbearia diferente. É o Salão dos Artistas. Lugar sagrado para muita gente que anda lá, tanto para fins estéticos como apenas para prosear e ouvir Música.

O dono do lugar é Cecílio Francisco da Silva, de 78 anos, conhecido como “Cecílio Barbeiro” ou apenas “seu Cecílio”. Além dominar a tesoura, o pente e a lâmina, é um exímio sanfoneiro e afinador de sanfonas, um ofício raro por aqui que o mestre exerce há mais de cinco décadas.

Nascido em Taquaritinga do Norte-PE, ele lembra que na década de 1960 havia um senhor que morava em sua casa que ajeitava sanfonas. Desde então se encantou e mais tarde resolveu tentar desmontar e montar um instrumento daqueles. Uma tarefa nada fácil.

A notícia correu o Agreste alagoano e todo mundo que lidava com sanfonas e o meio cultural começou a frequentar mais e mais o Salão dos Artistas. Após uma reportagem no programa Domingo Espetacular, da TV Record, o local ficou ainda mais famoso.

Segundo seu Cecílio, uma de suas especialidades é mudar o registro da sanfona. Isto acaba a deixando mais grave ou mais aguda.

E sem perder o tom, ele recebeu em 2005 da Prefeitura de Arapiraca o troféu “O Boneco Sanfoneiro” e, em 2013, o título de mestre da Cultura Popular.

Um ano antes, em 2012, foi rodado o documentário “Salão dos Artistas”, com direção de José Faustino Neto, contando sua vida e seu zelo pelo instrumento que canta o Nordeste. Ele, o doc, recebeu o “Prêmio Velho Chico de Cinema Alagoano” na 3ª edição do Festival de Cinema Universitário de Alagoas.

Dona Eurides

De uma família de Tanque d’Arca-AL de nove irmãos da qual só se criaram dois, Eurides Ferreira da Silva veio ainda criança para Arapiraca devido às condições precárias de emprego. Por aqui, se estabeleceram na Canafístula, bairro que é berço cultural do município.

Lá havia muitas olarias e o trabalho durante o verão e o inverno era constante com o plantio de fumo. E esse contato com a roça despertou nela um sentimento de raiz.

Logo, conheceu o pastoril. Sua primeira personagem foi a Borboleta, ainda aos 7 anos de idade. Daí à frente, não se afastou mais das atividades folclóricas.

Aos 13, viu onde hoje se localiza a Praça Manoel André algumas apresentações de eventos organizados por Maria Fragoso. Entrou então para o grupo de pastoril do senhor Procópio e dona Morena, refinando ainda mais seu gosto e sua aptidão para a dança.

Casou e teve 16 filhos – muitos deles herdaram a vontade de levar esse folguedo adiante. Dona Eurides, como é conhecida, foi a idealizadora do Pastoril São Vicente – O Pastoril da Melhor Idade da Canafístula. Hoje referência em Arapiraca, ela tem seus 71 anos e agora atua como Diana.

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Velho Mestre Davi

O pequeno Davi Bernadino via seu avô Antônio puxando os passos de quadrilha matuta e ficava encantado nos casamentos. Sim, nos casamentos. Antes de elas serem integradas nos festejos juninos, os casórios é que recebiam a dança.

E Antônio era um grande mestre nesse ofício lá em Pernambuco. Mas por problemas de saúde, ele passou o “cajado” para o filho Manuel, pai de Davi, que nasceu em Canhotinho-PE.

Foi inclusive seu pai que incluiu as quadrilhas matutas nas festas locais de São João. Aos 9 anos, ele dançou pela primeira vez e logo com Manuel como puxador. Em 1961, Davi já estava comandando a sua própria quadrilha, a “Pé de Serra, passando a divulgar seu trabalho sociocultural nas escolas pernambucanas. Ele só tinha 18 anos de idade.

Já em 1985, muda-se para Arapiraca e traz consigo a sua quadrilha. No ano seguinte, fez sua primeira festa junina no bairro Jardim Esperança, um dos mais tradicionais neste quesito aqui em Arapiraca. Ganhou diversos campeonatos e chegou a ter até 88 componentes de uma vez em seu grupo.

O “Velho Mestre Davi”, como era carinhosamente chamado, deixou sua marca no solo e na sola arapiraquense, com seus passos tradicionais bem marcados, e faleceu do coração em 2013, com 70 anos.

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Mestre Duda

Um dos maiores nomes do reisado em Alagoas, José Magalhães da Silva se foi em novembro do ano passado, aos 94 anos. Porém deixou o seu legado.

O “Mestre Duda”, alcunha que ganhou de todos, nasceu em Arapiraca em 1922, dois anos antes de ela se emancipar politicamente de Limoeira de Anadia-AL. Filho de agricultor, agricultor é. Ele alternava essa profissão com a de pedreiro também quando o verão chegava.

Mas foi longe da labuta que seu coração palpitou mais forte: aos 8 anos de idade, assistiu ao que mudaria sua visão de mundo. Cores e mais cores rodopiando e sendo melodiadas. Aquela visão ficaria guardada. Era dezembro de 1930 e o grupo que estava se apresentando, da cidade de Junqueiro-AL.

Um dos integrantes desse mesmo grupo era Antônio Militão, artista que pouco depois também viria a morar em Arapiraca, mais especificamente no bairro de Canafístula – o mesmo de Duda.

Passado algum tempo (Duda já tinha mais de 25 anos), Antônio inicia o primeiro grupo de reisado naquele local. Como havia casado há pouco e estava com filhos pequenos, o jovem não queria se envolver muito e apenas via os ensaios.

Certo dia, na falta de um personagem, lhe chamaram – e a visão que ficara guardada se fez ao vivo. Passou 12 anos lá até a morte de Antônio Militão. Depois foi convidado a participar do Grupo de Reisado da Camadanta.

Apesar da distância, ele fazia questão de ir realizar este resgate das nossas tradições nordestinas. Em pouco tempo, esse reisado também se desfez e só em 2001 o Mestre Duda voltou a dançar, por meio da Associação de Moradores e Amigos da Comunidade de Canafístula, comandando seu próprio grupo.

Por causa disso, ele recebeu reconhecimento nacional com o título de “Mestre da Tradição Oral”, pelo Ministério da Cultura (MinC). Seu trabalho cultural hoje rendeu no Reisado do Mestre Duda, coordenado pelo artesão José Wilson lá na Canafístula, que conta com componentes entre 14 e 87 anos. O reisado é democrático.

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Blog Arapiraca Legal

Um prato cheio para informações sobre a nossa cultura e nosso povo é o blog Arapiraca Legal, mantido por Pedro Jorge (confira aqui).

“Preservar a memória da nossa cultura é um imperativo na História. Aí não poderão faltar os registros dos que já se foram e deram suas contribuições para o enriquecimento cultural de Arapiraca”, diz o internauta José Palmeira de Melo nos comentários da página.